​Os desafios do empreendedorismo feminino

Dados compilados pelo IBGE em 2018 apontavam que aproximadamente 9,3 milhões de mulheres estavam à frente de negócios no Brasil, sendo que 34% eram proprietárias desses negócios. Já o GEM - Global Entrepreneurship Monitor (Monitor Global de Empreendedorismo, em tradução livre para o português), que monitora dados de 49 países apontou o Brasil em sétimo lugar no ranking de mulheres à frente de empreendimentos iniciais (com menos de 42 meses de existência), de acordo com matéria no blog do Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 

A crise gerada pela pandemia de coronavírus em 2020 impactou um grande número de empresas, especialmente aquelas que oferecem serviços, mas um estudo feito pelo Sebrae em parceria com a FGV - Fundação Getúlio Vargas mostrou que 52% de empresas lideradas por mulheres ficaram paradas temporariamente (ou fecharam) contra 47% de empresas dirigidas por homens. Ao mesmo tempo, a proporção entre empresas com dívidas em atraso é maior entre as administradas por mulheres (34%). As lideradas por homens acusam 31%. 

Se descortinarmos a cena das empresas lideradas por mulheres teremos um panorama interessante. O empreendedorismo feminino está relacionado à transformação social. Isso é compreendido quando vemos que mulheres independentes financeiramente não precisam se submeter a relações abusivas, passando pela questão da violência doméstica, que atinge mulheres de todas as classes sociais e graus culturais. 

As mulheres, quando à frente de uma empresa, têm um potencial transformador maior, dando mais visibilidade às questões de gênero e, ao mesmo tempo, inspiram outras mulheres. Ao mesmo tempo, as mulheres buscam alternativas para os diferentes problemas que enfrentam nas empresas e isso pode ser provado ao vermos no mesmo estudo do Sebrae com a FGV, que 34% das empresas lideradas por elas têm buscado soluções digitais enquanto empresas tendo à frente homens respondem por 31%. É frequente a piada feminina que diz que se uma mãe estivesse à frente do Ministério da Saúde no país, todos já estariam vacinados, de banho tomado e prontos para sair. Mesmo uma piada revela que a busca por soluções sempre está à frente das prioridades femininas. 

Desafios que as mulheres enfrentam

Ao longo da vida as mulheres enfrentam uma serie de problemas que estão já entranhados na nossa cultura, sendo, por exemplo, o salário mais baixo ou então a questão de serem preteridas por homens em cargos de chefia, independente de sua capacitação profissional. Quem não conhece alguma mulher que realizando com mais rapidez e eficiência determinadas tarefas, viu, com surpresa, seu colega homem, que realiza o mesmo trabalho, sem tanta eficiência e rapidez, ser alçado a gerente ou supervisor? A questão é que esse preconceito enraizado em nossa sociedade e, muitas vezes, replicado por nós mulheres, inadvertidamente, contamina todas as áreas de nossa vida.

Outra questão que merece ser mencionada (e que a pandemia colocou às claras) é a dupla jornada de trabalho. Durante séculos as mulheres eram responsáveis pelas atividades do lar enquanto os homens (maridos, companheiros, irmãos ou pais) se responsabilizavam pelas despesas domésticas, uma vez que eram provedores. Hoje, mesmo com a mulher trabalhando fora, boa parte dos homens se recusa ou "esquece" de realizar as tarefas domésticas e cuidar dos filhos. 

A autoconfiança é outro problema que as mulheres enfrentam diariamente. Durante séculos martelaram em nossas cabeças que não somos competentes o suficiente para…. (completar com a palavra que quiser: trabalhar, fazer contas, pensar, etc.). O resultado é que, inconscientemente, acabamos por aceitar e acreditar que não somos boas o suficiente para realizar qualquer um desses quesitos. É uma guerra interna diária que é travada para superar esse assunto. 

Mulheres que inspiram

Apesar de todos os entraves as mulheres vêm galgando espaços sociais e aquelas que atingem os mais altos patamares são consideradas inspiração para as demais. Vamos listar aqui algumas delas, que merecem ser vistas e seguidas em perfis das redes sociais. 

Luiza Helena Trajano: à frente do Magazine Luiza é uma das empreendedoras mais conhecidas no Brasil. Recentemente, se encontra à frente de um grupo empresarial (Movimento Unidos pela Vacina) que está procurando a viabilização de vacinação de todos os brasileiros até setembro de 2021. 

Chieko Aoki: a empresária é fundadora e presidente da rede hoteleira Blue Tree Hotels. Está no segmento desde a década de 80 quando trabalhava como diretora de marketing e vendas de uma rede de hotéis de luxo. 

Sonia Hess de Souza: empresária e filha da fundadora da Dudalina, empresa de moda, chegou à presidência da empresa, obtendo o feito de aumentar o faturamento da empresa em 50%. Responsável pelo sucesso da empresa, já foi apontada como uma das mais poderosas empresárias do país. 

Rachel Maia: a executiva, que acabou de ingressar no Conselho de Administração do Grupo Soma (que detém as marcas Farm, Animale entre outras e, recentemente, adquiriu a Hering) trabalha no mercado de multinacionais há 28 anos. Primeira mulher negra a ocupar uma cadeira estratégica no Grupo Soma, a executiva já passou pela Tifany & Co, Pandora e Lacoste. É fundadora do Projeto CAPACITA-ME, que auxilia jovens da periferia por meio da educação. 

Além delas merecem destaque Martha Medeiros, da marca homônima; Patrícia Bonaldi (da PatBo); Amanda Santos da Silva, fundadora da marca Ideia Crua; Marcela Ohana, da Dash (de uniformes profissionais) e Djamila Ribeiro (filósofa e autora do livro Pequeno Manual Antirracista), entre outras.

Você, com certeza, conhece uma mulher que, com sua garra e personalidade, te inspira também.


Por: Marta De Divitiis
Cadastrado em 29/06/2021
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